sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Um real

Essa mania de bancar a engraçadinha só me causa problema, gente. Sério. Ou vocês pensavam que era só aqui no blog? Não. É um vício. Um transtorno. Uma praga. Um modo de viver a vida que não vale a pena, garanto. Já me valeu muita inimizade, muito tiro pela culatra, pra não falar do meu péssimo hábito de resolver os problemas de todo mundo. Eu falo demais.
Hoje, por exemplo. Resolvi que hoje, dia trinta e um de agosto de dois mil e sete, eu ia, finalmente, mudar. Não ia fazer nenhum comentário desnecessário, nem explicar nada, nem facilitaria a vida de ninguém, em detrimento da minha própria. Ficaria na minha. Discreta. Calada. Hum. Não funcionou.
Eu tinha planejado comprar uma azaléia nova, e ao passar pela loja, na Antero de Quental, perguntei o preço:
— Oito reais. — Mais os três da violeta que eu queria levar pra mamãe, por conta da sexta-feira e tal, onze.
— Aceita cartão?
— Não. Só dinheiro. E cheque. — Na carteira, eu só tinha dez. Vou passar no banco, pensei. Enfrentar a fila, porque afinal, não tinha trazido o tal chaveirinho gerador de senha, conhecem essa? Na agência perto do cinema não tinha Prime, e a fila... vocês sabem: é sexta; pela hora da morte. Fui à minha agência, sete pessoas na minha frente. Pensei: ao chegar no caixa, não vou comentar nada, nem fazer nenhuma piadinha. Afinal de contas, estou aqui por minha própria escolha. Ninguém tem nada a ver com isso.
O caso é que das sete pessoas, pelo menos três tinham uma verdadeira bíblia em contas, fala sério, e eu lá em pé, morrendo de calor, ainda com gripe, indisposta. Esperando. Sete. Seis. Cinco. Quatro, três, dois. Opa. Sou eu. Não consegui, gente. Cheguei na frente do caixa:
— Vinte reais, por favor. — E fui em frente: — os vinte reais mais custosos de toda a minha vida. Mas não tem importância, foi até bom. Deu pra relaxar.
— Mas quando a senhora só quiser retirar, use o caixa automático...
— Eu sei, minha filha. Mas não planejava tirar dinheiro, e não trouxe o tal do chaveirinho. Paciência.
Saí do banco meia hora depois, com os vinte reais, mas muito puta comigo mesma. Enquanto eu andava as duas quadras até a loja de plantas, na direção contrária da minha casa, repetia obsessivamente dentro da cabeça: "quando eu chegar na loja, não vou falar nadinha, juro. Vou comprar a planta, pagar e pronto. Não vou ficar me explicando, tintim por tintim, ninguém agüenta mais isso." Pego a azaléia, a violeta, levo no caixa, dou um leve sorriso e adianto os vinte reais, cash.
— Tem um real?
— Não! — respondo, bem lacônica. E fico ali quieta, enquanto na mente, vendo o movimento da vendedora procurando troco, já vou criando a novela: "não quer deixar por dez? Poxa. Se fosse pra deixar por dez, não precisava eu ter ido ao banco. Fiquei na fila mais de meia hora, imagine." Mas a boca? Nem se mexeu. Vejo a vendedora perdida, buscando uma solução, roda daqui, roda dali, mas me segurei. Finalmente ela se decidiu, abriu a própria carteira, tirou de lá uma nota de dois "real" toda amassadinha, mais duas moedas de um real (que eu odeio), e me deu o troco contadinho: nove reais.
— Obrigada.
Saí de lá feliz da vida, pronta pro fim de semana, e com sorte, uma nova vida. Mas fala sério: podia ter passado sem essa, e afinal de contas, economizado um real.

2 comentários:

Noga Sklar disse...

Comentar meu próprio post fica esquisito, mas é que recomendei o Crônicos no Blog Day. Confiram: www.blogday.org

Anna K disse...

eita mas fiquei com tanta vontade de ir comprar essas flores com você!! qualquer, que tal?! aí você iria saber o que são duas mulheres que sempre têm respostas na ponta da língua.

muuuuuito bom o texto.