quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Do outro lado da mesa

Por Giovana Damaceno

São mais de 50 pares de olhos pregados em mim. Quem me conhece mais de perto pode pensar que estou falando de bichos. Sou da Sociedade Protetora dos Animais e com freqüência escrevo sobre bichos. Mas não são deles essas dezenas de olhos aos quais me refiro. Poderia até dizer que são tão infantis, ou inocentes, ou curiosos, quanto os de um cão arisco, ou um gato acuado. Mas falo mesmo de gente, uma turma de mais de 50 alunos do curso de Comunicação Social do UniFOA, onde estreei como professora de História da Comunicação há cerca de 15 dias.

Comecei falando das dezenas de olhos fixados na minha pessoa, porque é o que mais me chamou à atenção – e ainda me chama – nos momentos ansiosos da estréia. Há quase 20 anos estava do lado oposto, a observar atentamente, com olhar muito crítico, cada um dos professores que começavam o ano conosco. É inevitável essa observação atenta. Afinal, aquele cara, ou aquela mulher, entra ali para me ensinar alguma coisa que será fundamental na minha formação, vai passar um tempo considerável comigo e o que é pior, vai me avaliar. Quem é essa figura, então?

Até hoje me lembro do que esperei de cada um deles, quais foram as primeiras impressões, as simpatias imediatas e as antipatias que se tornaram eternas. Ficaram para sempre algumas conversas rápidas na saída da sala, quando falávamos sobre alguma particularidade minha – ou dele. Também não foram poucas as decepções ou frustrações com aqueles de quem esperei muito e não obtive nada, além de “boa noite, pessoal” ou “até semana que vem”. Nenhum conteúdo interessante, técnico ou filosófico, político, social ou cultural. Esses eram professores por acaso, por bico, por erro. Sim, eram pessoas erradas na vida.

Os inesquecíveis ficaram, desde as primeiras semanas de contato, no altar da minha imaginação, onde os tenho guardados, como peças raras de colecionador. Alguns ainda firmes e fortes, outros que já cumpriram seu tempo. Foram mestres, amigos, pais, mães, companheiros. Tinham matéria e história para contar, eram ocupados e preocupados com a responsabilidade de uma formação profissional, puxavam nossas orelhas e criticavam duramente nossos textos ainda tímidos. Formaram minha postura ética, ajudaram a moldar meu caráter, me ensinaram, letra a letra, a ser uma jornalista atenta a algo mais que a reportagem, o fato em si.

E agora lá estou, do outro lado da mesa, sendo observada, avaliada. Quem é essa mulher? “Boa noite, pessoal! Sou a Giovana, professora de História da Comunicação.” E são mais de 50 pares de olhos esperando que eu os ajude a ser jornalistas e publicitários com as histórias que tenho pra contar. Sinceramente, não creio que seja tarefa fácil, a começar pela certeza de que não sou uma pessoa errada nesta vida. Se decidi aceitar o desafio de ensinar, é exatamente porque sei que não vai ser moleza. E acaba sendo muito prazeroso estudar, organizar e preparar tudo perfeitamente para que não me torne a decepção que muitos se tornaram para mim. Infelizmente conheço gente que não dá se dá ao trabalho.

Parei para escrever tudo isso, porque na outra janela do navegador está uma enorme pesquisa em curso, para a aula da semana que vem. Muita informação para compilar, quatro tempos de aula para programar, a história dos meios de comunicação para destrinchar a partir da próxima segunda-feira. E aqueles 50 pares de olhos estão aqui, diante dos olhos da minha mente, aguardando o que vem por aí.

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