sexta-feira, 16 de maio de 2008

Conversas Nardônicas

Aprendi com uma dupla de cronistas renomados – Joaquim Ferreira dos Santos e Arthur Dapiève – que a crônica deve passar ao largo das questões do dia-a-dia; deve mudar de assunto, até mesmo para dar uma folga do pesado noticiário, que normalmente nos é oferecido.

Porém, há casos em que é quase impossível mudar o rumo da prosa, por isso fiquei em silêncio nos últimos dias. Durante praticamente dois meses não se falou em outras coisa: o assassinato de Isabella Nardoni. O país parou, queixos caíram pra todo lado; o que para muitos seria considerado impossível estava ali, ao vivo, na tela da TV, relatado em todos os canais e telejornais.

Uma mobilização geral tomou conta do país. Revolta, tristeza, indignação, surpresa, choque, incredulidade. Muita gente saiu de sua casa a quilômetros de distância para fazer plantão na porta do prédio dos Nardoni, em São Paulo. A polícia precisou montar esquemas especiais de segurança para garantir a integridade física de Alexandre e Ana Jatobá. Sem contar a audiência na TV em pleno domingo, com a transmissão ao vivo da reconstituição do crime. Melhor que Juvenal Antena.

Em uma das muitas e intermináveis conversas das quais participei, ouvi de uma amiga psicóloga a seguinte explicação: “Constatamos, com este caso, que nós, seres humanos, somos capazes de cometer as piores atrocidades. Não importa se pai, mãe, filho ou qualquer outro grau de parentesco. O ser humano é, sim, capaz de matar o próprio filho. É isso o que causa o choque, esse interesse exorbitante da população”. Ouvir isso dói, mas infelizmente é mesmo uma constatação.

Na tentativa de explicar de outra forma a morte da menina, por não conseguir admitir a culpa da madrasta e do próprio pai, muita gente viajou em possibilidades hollywoodianas. “Essa família é mafiosa, envolvida com tráfico internacional. A menina foi morta num acerto de contas e para não entregarem o esquema, se meteram nessa roubada”. É. Comoção nacional também vira piração.

E ainda há os que, até hoje, acreditam na versão do casal, a de que havia uma terceira pessoa no apartamento. “Não posso crer que um pai tenha sido capaz de matar a própria filha. Prefiro acreditar que alguém entrou lá e fez essa maldade. Quer ver que daqui a alguns dias a verdade vai aparecer?”.

Difícil foi agüentar o Big Brother: entrevista de 35 minutos do casal no Fantástico (da qual se editaria 5 minutos); entrevista da mãe, Ana Carolina Oliveira, também no Fantástico, em pleno Dia das Mães; entrada ao vivo acompanhando a prisão do casal Nardoni; debates, debates e debates nos canais de notícias a cabo; o promotor adorando aparecer; Ana Carolina Oliveira em missa do padre Marcelo, visitada por Xuxa e Ivete, e abraçada por Zezé Di Camargo; enfim, uma super dosagem de apelação para garantir o telespectador cristalizado em frente à TV.

No fim de tudo acho essa história muito triste. Com todo o requinte de crueldade utilizado no assassinato de Isabella, é muito triste o ponto a que chega uma família desajustada, formada por gente desequilibrada. E quem paga por isso, claro, são os seres mais frágeis. É a mesma tristeza que dá ao ver histórias como essa acontecerem nas áreas pobres, nas favelas espalhadas por aí: crianças que morrem por espancamento; outras que são estupradas dentro de casa por pais, padrastos, tios, primos, irmãos, padrinhos; e outras tantas que são inseridas no tráfico pela própria família. A diferença é que nestes casos o Big Brother se omite. Só interessa à opinião pública quem tem dinheiro, a classe média que mora em bairro nobre. Criança favelada nasce para morrer no anonimato.
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sexta-feira, 9 de maio de 2008

Vitórias

Moro em frente a um Centro de Ação Comunitária, mantido pelo governo municipal. Além das atividades da programação normal da casa, ali também se reúnem os Alcoólicos Anônimos do meu bairro e adjacências. Todos os domingos, das 19 às 21 horas, estão todos lá, cerca de 20 pessoas, não sei ao certo, para darem seus testemunhos de superação ao vício. São silenciosos, chegam devagar, cumprimentam-se, abraçam-se, falam baixo, às vezes ouvimos aplausos ou alguns risos abafados. Não conheço ninguém; não sei o nome de ninguém. Só sei que são vitoriosos.

São vitoriosos. Conseguem, dia após dia, vencer em si próprios àquela vontade doentia de sucumbir ao primeiro gole. E trocam entre eles força, coragem, fé, certeza no futuro. Me emociona, a cada domingo, vê-los nesses encontros para mim festivos. Eles deixaram para trás uma rotina de angústia e sofrimento, e decidiram apostar na vida. Não é uma decisão fácil, afinal a dependência do álcool é uma doença, cuja cura está unicamente nas mãos do paciente.

É dor, privação, insegurança, depressão, e também força de vontade, amor próprio e pela família, fome de viver, tudo misturado. Vejo em cada uma daquelas pessoas um pouco de tudo isso. A disposição corajosa de mudar de rumo, crer em si e renascer das cinzas, como uma Fênix. Na edição passada falei sobre isso aqui: mudança. Vencer vícios ou situações adversas é se permitir mudar, acreditar que existe uma mola no fundo do poço que vai te impulsionar pra fora, desde que se queira, mesmo, sair lá de dentro.

Talvez pelo exercício da escrita me acostumei a observar pessoas e tenho visto alguns exemplos de vitória por aí. Tenho um amigo que se curou do vício em drogas e hoje é professor universitário. É tão vitorioso que sequer guarda nas expressões do rosto as marcas dos dias de sofrimento. Alegre, com o olhar iluminado, sempre otimista, é espirituoso e a todo momento tem algo de bom pra dizer, sem ser piegas. É um cara feliz e pronto.

O mais interessante em tudo isso é que é difícil falar de vitória sem falar das perdas ou dores pelas quais se passa, pelas quais se é tentado à escolha pela vida ou pela morte. A vitória pessoal está intimamente ligada a um infortúnio qualquer, angústia, aflição. Não falo de vencer na profissão, ter sucesso na carreira e ganhar muito dinheiro. Conheço gente rica que nunca mais soube o que é alegria depois da morte de um filho. E superar uma perda dessa importância não é para qualquer um. Muitas mães passam o resto dos seus dias sem sentido depois de enterrar um filho.

Superação pessoal. Vitória individual sobre si mesmo. O cantor Roberto Carlos levou a vida inteira para admitir que era doente, que sofria de Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC e, finalmente, decidiu se tratar como convinha. Entregou-se a um psiquiatra e se tratou, vencendo em si a compulsão, as manias. Já o ator Michael Douglas, dizem, procurou tratamento para outro tipo de compulsão, a sexual. Era doente por sexo e só conseguiu recuperar o controle após sessões de análise e alguns remedinhos psiquiátricos para frear o desejo ardente. Por favor, leitor, não viaje. É doença mesmo, viu?

Uma coisa aprendi observando as vidas dessas pessoas e de outras tantas que não caberiam aqui. O importante é ser feliz e para isso é preciso liberdade. E qualquer sentimento que nos prenda à dor impede a vida em sua plenitude. Da mesma forma que não se pode dar asas ao prazer de viver, preso ao vício, seja de drogas, álcool, sexo. Claro que não estamos nessa vida a passeio, senão tudo seria muito mais simples. Falo na liberdade do ser completo, feliz por si, de alma leve, “espinha ereta e coração tranqüilo”. Livre. Vitorioso.
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quinta-feira, 1 de maio de 2008

poemas de amor mequetrefes

Sai cadeeiras verdes pra lá
Me acostuma esse cheiro
Me aconchega de longe
Nem sabendo dos iguais
Suadeira felizmente aproxima
Suave igual letra sem verbo
A gente vai estendendo
fôrma e nuca
Meu viking da paulicéia
Eu inseguro, tu, inseguras
Vamos levando
No andar possível
Vamos amando