De Simone Silveira,
Martha’s Vineyard, Julho de 2006
Acordei mais tarde que o normal. A casa já estava movimentada—o café passado, as crianças vestidas e correndo pelos corredores. Desorientada pelo excesso de horas dormidas, perambulei ainda meio sonolenta do quarto à cozinha. Finalmente beijei o filho mais velho, depois o marido e me arrastei para o chuveiro de praia ao lado de fora da casa.
Acima da minha cabeça, as andorinhas migravam. Pelas gretas espiei as roseiras que havia plantado no dia anterior. Enrolei-me na toalha e fui aguá-las por medo de que elas jamais medrem.
Quando as comprei, a senhora me alertou, “as roseiras são muito frágeis, tem que ler sobre elas, aprender como cuidá-las, saber como podá-las, protegê-las das doenças que destroem suas folhas, e mesmo assim, não há garantias.” Saí de lá com uma dúzia de roseiras inglesas e nada mais a declarar.
Vesti-mem e pintei-me. Era sábado, dia de ir passear na cidade com a família. Encontrei meu filho mais novo parado à porta. “Mamãe, mamãe, olha o coelhinho morto!”, ele disse estupefato. Entre os inúmeros coelhos que coabitam o nosso jardim, por meios não evidentes, aquele foi um desafortunado que acabou esticado e duro aos nossos pés.
Meu marido sugeriu que fizéssemos a limpeza do corpo do animal mais tarde, depois do passeio. “Está doido?”, eu disse, “se ele ficar aí, vai virar banquete para os gambás, é melhor resolvermos a situação logo.”, completei decidida. Nossos dois filhos nos olhavam curiosamente. “Vou lá pegar a pá para jogá-lo do outro lado do muro.”, ele disse.
Olhei para as crianças e dei-me conta que este era o primeiro contato delas com a morte. “Enterre o coelho, por favor, e leve os meninos para que eles dêem adeus ao animal,” eu disse pausadamente.
Os três saíram em procissão-à frente, meu marido carregando a pá e o coelho esticado dentro nela, atrás foram as crianças se acotovelando. “Victor, quer dizer alguma coisa?”, perguntou meu marido ao filho mais velho. “Por que você morreu, coelhinho?”, ele indagou. Nenhuma resposta. Enterraram o bicho.
Se ontem deparei-me com a fragilidade daquele animal, hoje foi com vulnerabilidade das rosas. Vi os coelhos comendo suas pétalas. “Da terra nos alimentaremos, para a terra voltaremos e dela brotaremos para que alimentemos o outro” eu disse aos meus filhos.
Estamos todos, pouco a pouco, entendendo o ciclo da vida.
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
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