terça-feira, 31 de julho de 2007

Não falo sobre o óbvio porque o óbvio não me assalta

Por Elaine Pauvolid*

Paraty vai para muito longe com a FLIP. Isso é óbvio e o óbvio não assalta. Falarei sobre o encanto, sobre o significado especial da cidade de Paraty. Considero-a um lugar mágico assim como Santa Teresa, Lapa ou Parque Lage. São lugares para os quais ou pelos quais preciso passar ou chegar quando estou no Rio de Janeiro. São lugares inexplicáveis. Quem passeia pela Lapa ou Santa Teresa simplesmente há de balançar a cabeça e concordar comigo. Não precisam palavras. É isso. Com o Parque Lage a mesma coisa, talvez, com menos cabeças balançando. Para concordar comigo a pessoa deverá ter o que fazer lá. Ou dar uma esticada nas pernas ou estudar Artes Plásticas, ou seja lá o que for. Se o parque Lage é passagem para alguém, eu diria, que é, eu sei. Há os caminhantes a seguir as trilhas da floresta, mas, ir por este caminho seria desviar do meu ponto de vista. Fico com o reduzido olhar que me cabe ao enxergá-lo necessariamente como um lugar de chegada e ponto.

Já Paraty, eu diria ser óbvio o fato de ser aqui – escrevo do lugar mesmo – o lugar onde prêmios Nobel deveriam tropeçar nas pedras lisas das ruas de pé-de-moleque mais parecidas com fundo de riacho. Deveria ser aqui onde simples mortais esbarrariam com entidades, como Barbara Heliodora, a senhora a teimar em levar à glória ou ao fracasso qualquer peça que lhe passe sob os olhos, a manter-se altiva a despeito dos anos lhe pesando às costas, a vestir-se como uma alemã e a trazer o ar de aluna de um Sacre Coeur, a fazer a lição de casa.Também Paraty seria o único lugar possível para Alice no país das maravilhas vir atuar em seu mais fiel Lewis Carol. Eu esbarraria com ela e a cumprimentaria por legítima força do hábito. Seria possível um Kafka se debatendo em uma cama encardida abaixo de uma amendoeira feliz. E para explicar o inexplicável eu diria que Paraty só poderia ser aqui.

* http://www.elainepauvolid.net/

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