domingo, 7 de outubro de 2007

Distantes

Minha vizinha está grávida. De seis meses. E só agora fiquei sabendo. Dividimos as paredes em casas geminadas, mas quase não nos vemos por conta dos horários de trabalho. Quando a encontrei, dias atrás, levei um susto com aquela barriga, principalmente por ser ela uma atleta, que sempre exibiu aquele corpo torneado sonhado por toda mulher.

Essa notícia me fez pensar no quanto vivemos distantes das pessoas mais próximas nesses dias corridos. Acordo cedo, saio para trabalhar, chego já noite e emburaco em casa, onde também tenho os meus afazeres de mãe e dona de casa (quase) dedicada. Portanto, mal vejo meus vizinhos; muito menos tomo ciência do que andam fazendo de suas vidas. A maioria deles nem conheço.

Até pessoas da minha família, que moram na mesma cidade, custo a ver. São todos assoberbados de atividades, que para encontrá-los é preciso consultar agenda. Inclusive minha mãe. Aos 74 anos se queixa da falta dias em sua semana. E ficamos sabendo uns sobre os outros por telefone, quando sobram minutos para um bate-papo rápido.

Já faz alguns dias que não vejo minha vizinha. Mas tenho ouvido a movimentação de preparo da casa para a chegada da bebê. Soube o sexo assim, sem querer. Da minha cama ouvi uma conversa dela com uma visita amiga. Estavam excitadíssimas, conferindo as peças do enxoval. “Olha que lindinho esse vestido, ela vai ficar uma gracinha, né?”

No último sábado cheguei em casa à tarde e tentei tirar um cochilo. Nada feito. Móveis são arrastados, gente conversando, e uma furadeira insistente rasgando meu tão desejado silêncio para uma soneca rápida. Talvez nem receba a notícia do nascimento da bebê, devido à ‘distância’, mas já imagino minha participação auditiva das choradeiras noturnas, dos gritos e gemidos de cólica, da mãe marinheira-de-primeira-viagem desesperada sem saber dar conta.

Também vou perder o sono, fazer o quê? Ainda tenho um tempo para pensar se vou ficar apenas escutando os intermináveis choros ou se vou levantar e bater lá para oferecer ajuda. Afinal já passei por isso e garanto que não é nada fácil. Não custa nada ser solidário nesses momentos. E já que moramos coladas, “to aí”, de prontidão, para tentar vencer a ‘distância’.

Um comentário:

Noga Sklar disse...

Giovana, aliás e a propósito: se te convidaram a publicar, publique. Mesmo que seja no jornalzinho da igreja, e de graça. Nunca se sabe onde uma crônica publicada vai parar, e sempre conta no currículo. Beijo!