domingo, 14 de outubro de 2007

É dose!

Autora mulherzinha faz beicinho e esperneia contra críticas infundadas.

(Publicado originalmente em http://oglobo.globo.com/blogs/paralelos .)

Estou sendo vítima de um desserviço literário cruel.

Há dois dias, recebo um telefonema de minha editora me comunicando que enfim o Prosa & Verso me daria de presente uma resenha sobre meu livro de contos "Amor em pílulas", lançado em novembro do ano passado. "Quase um ano depois", pensei. "Antes tarde do que nunca". O fato é que ainda estou esperando pela tal resenha e o café do fim de semana prolongado foi tomado ao sabor de presente de grego.

A crítica de Beatriz Resende, recheada de achismos que uma segunda leitura do livro trataria de desfazer, aponta uma certa "pressa", que, segundo ela, comprometeu o aproveitamento de "Amor em pílulas", estando ele incompleto, como se precisasse de um fermento para crescer. Acusada de "fazer beicinho" e ter "súbitas crises de mulherzinha"(o que está longe de ser qualquer atributo literário), vim aqui, ao nosso espaço virtual, para espernear, como boa emergente que sou.

"Amor em pílulas" é sim um livro-laboratório. Ele reúne contos e experimentações (em sua maioria publicados em primeira mão na internet, em sites literários como Blogautores, a extinta Patife, Bestiário, a própria revista Paralelos e meu finado blog "à segunda vista") que foram alvo de críticas e elogios muito mais construtivos e consistentes do que este rol de acusações vazias, em tom até mesmo pessoal, na melhor tradição impressionista de análise de texto, que não encontra embasamento nos próprios contos que deseja "discutir". Não há espaço para discussão. As frases da crítica são usadas de maneira autoritária, dignas de quem não aceita qualquer outra proposta formal diferente do conto clássico.

Minha "atração pelo presente" e minha pressa devem ter contaminado Beatriz Resende, porque sua suposta resenha sofre do mesmo mal crônico. Traduz uma leitura rasa e mal cuidada. Seu texto contém erros de digitação e informações mal apuradas, vindas de uma rápida pesquisa do meu nome no Google, deixando claro para um bom leitor a opinião da crítica a respeito da literatura online.

A internet é o espaço "experimental" (entenda-se: de pouco ou nenhum prestígio acadêmico), enquanto o livro é um lugar canônico, sagrado, intransponível, onde meros plebeus, como eu, não podem transitar. Ou seja, se você quer ser escritor, independentemente do veículo de expressão, não dê sua cara a tapa, esconda-se num pseudônimo, respeite as regras dos manuais escolares de redação e não tenha um pingo de audácia. Muito menos o atrevimento de nunca estar pronto. Escritor bom deve ser escritor morto, não é? Estar no presente é uma ofensa. Quais são os predicados que um escritor deve ter para ser lido? Quando ele atinge o merecimento da maturidade? Seria ele escravo de uma única obra-prima para o resto de sua existência? Ou o julgamento é precário?

Me admira que um suplemento literário de renome como o Prosa & Verso tenha a coragem de publicar um texto tão baixo, que ultrapassa os limites de uma crítica negativa, chegando à injustiça rasgada. Lamento que Beatriz tenha perdido seu precioso tempo com minhas notas de bloquinho. Eu perdi o meu abrindo o jornal esta manhã. É o que acontece com os novatos que não querem cultivar círculos de amizade cheios de interesse, que precisam aparecer nas livrarias para consignar como se pedissem um favor. Me sinto uma versão de luxo dos poetas que vendem seus textos a R$ 1 nas portas das faculdades. Mas podem ter certeza que não escrevo para mendigar elogios gratuitos. Escrevo para crescer e para isso não preciso de receita de bolo. Umas vezes posso colocar açúcar demais, outras de menos, mas é o meu bolo e isso deve ser motivo de inveja para alguns.

Nenhum comentário: