domingo, 2 de dezembro de 2007

Feel-good pie

um filme doce e crocanteSabe aquele tipo de filme que conforta e alimenta como o colinho da mãe? Se fosse um gesto, "Garçonete" seria um abraço carinhoso, daqueles que te aquecem e não exigem nada em troca. Se fosse um prato, seria a típica comidinha caseira, receita gostosa pra ir levando a vida na boa, deixando de lado os problemas cotidianos. E não causa espanto nenhum que a personagem principal, com toda a tristeza que a cerca, viva sorrindo e seja uma exímia fazedora de tortas, cada uma com nome e receita mais originais que a outra. Bem. Pelo menos uma infância feliz e doce ela teve, o que já garante uma certa dose de alegria.
Embora nada no filme seja tão, isto é, o vilão da história não é tão ruim nem a heroína é tão boa assim — afinal de contas, rejeita o filho que cresce em seu ventre e embarca numa aventura extra-conjugal com barrigão e tudo, o que não pega nada bem num filme tão bem-intencionado —, uma tensão permanente o atravessa e deixa a gente o tempo todo tentando adivinhar que horrível drama está por vir.
Não sei, gente. Deve ser aquela habilidade que o ser humano tem de organizar os fatos em perfeita sincronia e ordem, porque no filme, tudo se resolve a contento. A gente vai dando um suspiro de alívio e derramando aquelas lágrimas discretas e inevitáveis em casos como este, quando percebe alguma coisa esquisita nos créditos: o filme é dedicado à memória de Adrienne Shelly, diretora e atriz do próprio que a gente fica sabendo logo, deixou órfã a filha de dois anos, garota fofinha que aparece nas cenas finais. Uau. Perplexa. A sensação de incômodo continua nos extras do dvd, onde as imagens e entrevistas mostram Shelly com uma inexplicada textura de fantasma.
Pelo Google a gente descobre que Adrienne foi brutalmente assassinada em seu escritório de Greenwich Village em novembro de 2006, antes mesmo de "Garçonete" ser lançado. Aos quarenta anos, não viveu para vê-lo brilhar no Festival de Sundance de 2007, onde foi comprado pela Fox para obter uma bilheteria de 18 milhões de dólares. Seu assassinato inspirou o episódio "Melting Pot" da 17ª temporada de Law & Order, onde Shelly já havia atuado. Um choque.

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