A fuga do espírito natalino
No escritório
No escritório
- Tira aí, vamos circular o pote!
Rosana passa à frente o pote com vários papeizinhos dobrados, contendo os nomes dos colegas da sala. Novembro está terminando e já está mais do que na hora de tirar o amigo-oculto, que será descoberto na tradicional festa de confraternização.
Quem está na sala retira seu passaporte para o grande encontro de fim de ano. A maioria faz cara feia. Alguns até pedem para tirar novamente. Então, amigo-oculto serve para quê?
De um lado, para facilitar a quem não tem grana, poder comprar um presentinho só, em vez de presentear a todos.
De outro, o amigo-oculto é considerado uma animação essencial.
- Se não tiver, não tem festa! – alguém diz.
Mas, no fundo, o ambiente nem é tão amigável; do contrário não haveria narizes torcidos ao ler o nome escrito na tirinha de papel.
A própria Rosana não gosta de amigo-oculto. Diz que é uma imposição circunstancial de um grupo que tenta provar o impossível em uma efêmera festa de confraternização. Manu, da mesa ao lado, também não, por este e por outro motivo. Não quer gastar o dinheiro que não tem para comprar presente para uma pessoa que não está a fim de presentear. E por conta disso acabam provocando um mal-estar na sala.
- Ih! Tirei eu mesma. – avisa Rosana – É uma boa hora para desistir e retirar meu nome do pote. Pronto, gente, tô fora.
Rosana se exclui da brincadeira, sem aviso prévio, enquanto olhos estatelados a encaram.
No meio da discussão que segue a decisão de Rosana, Manu aproveita a deixa e pula fora, de mansinho, dizendo que não gosta de amigo-oculto, e que também não quer participar.
Aí o pote transborda!
- Mas isso é sacanagem! – reclama um.
- Eu também não comemoro Natal, mas penso que devemos conviver em sociedade, por isso participo. – retruca o outro.
E Manu não deixa pra depois:
- Assim não tem mérito. Sou obrigada a dar presente a alguém a contragosto e isso é conviver em sociedade? Acho melhor ser democrática, honesta, poder dizer e fazer o que quero ou não. Me sinto melhor diante dos meus colegas.
Silêncio.
O chefe, tentando aparentar calma, propõe o retorno à discussão no dia seguinte. Mas, a esta altura, o estrago já está feito; as caras feias e trombas já estão armadas.
Amanhã, discutir o quê?
Rosana e Manu ainda trocam um papo pelo MSN, sobre a imperdível oportunidade que tiveram de ficar caladas.
E o espírito natalino, que estava quase a bater na porta, sai de fininho, porque na verdade nem chegaria a entrar, num ambiente assim, socialmente frágil, de relações que já nascem partidas.
Rosana passa à frente o pote com vários papeizinhos dobrados, contendo os nomes dos colegas da sala. Novembro está terminando e já está mais do que na hora de tirar o amigo-oculto, que será descoberto na tradicional festa de confraternização.
Quem está na sala retira seu passaporte para o grande encontro de fim de ano. A maioria faz cara feia. Alguns até pedem para tirar novamente. Então, amigo-oculto serve para quê?
De um lado, para facilitar a quem não tem grana, poder comprar um presentinho só, em vez de presentear a todos.
De outro, o amigo-oculto é considerado uma animação essencial.
- Se não tiver, não tem festa! – alguém diz.
Mas, no fundo, o ambiente nem é tão amigável; do contrário não haveria narizes torcidos ao ler o nome escrito na tirinha de papel.
A própria Rosana não gosta de amigo-oculto. Diz que é uma imposição circunstancial de um grupo que tenta provar o impossível em uma efêmera festa de confraternização. Manu, da mesa ao lado, também não, por este e por outro motivo. Não quer gastar o dinheiro que não tem para comprar presente para uma pessoa que não está a fim de presentear. E por conta disso acabam provocando um mal-estar na sala.
- Ih! Tirei eu mesma. – avisa Rosana – É uma boa hora para desistir e retirar meu nome do pote. Pronto, gente, tô fora.
Rosana se exclui da brincadeira, sem aviso prévio, enquanto olhos estatelados a encaram.
No meio da discussão que segue a decisão de Rosana, Manu aproveita a deixa e pula fora, de mansinho, dizendo que não gosta de amigo-oculto, e que também não quer participar.
Aí o pote transborda!
- Mas isso é sacanagem! – reclama um.
- Eu também não comemoro Natal, mas penso que devemos conviver em sociedade, por isso participo. – retruca o outro.
E Manu não deixa pra depois:
- Assim não tem mérito. Sou obrigada a dar presente a alguém a contragosto e isso é conviver em sociedade? Acho melhor ser democrática, honesta, poder dizer e fazer o que quero ou não. Me sinto melhor diante dos meus colegas.
Silêncio.
O chefe, tentando aparentar calma, propõe o retorno à discussão no dia seguinte. Mas, a esta altura, o estrago já está feito; as caras feias e trombas já estão armadas.
Amanhã, discutir o quê?
Rosana e Manu ainda trocam um papo pelo MSN, sobre a imperdível oportunidade que tiveram de ficar caladas.
E o espírito natalino, que estava quase a bater na porta, sai de fininho, porque na verdade nem chegaria a entrar, num ambiente assim, socialmente frágil, de relações que já nascem partidas.
Um comentário:
Estava sumido, a vida mudou, vou ser pai ... loucura
adorei seu texto, vou ler pras crianças com quem trabalho.
beijos
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