quarta-feira, 5 de setembro de 2007

artefato que enfeitava a saia verde dela

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paetê miçanga lantejoula. não sei o nome exato do apetrecho que dá nome à coisa. nem ao que senti: uma espécie de dejavú, retorno ao tempo, lembrança fora de hora, saudade do raio que o parta. o fato é que exatos cinco meses depois que aquela arremedo de mulher me deixou, entro no quarto e dou de cara com o objeto reluzente no chão. tal artefato enfeitava a saia verde dela. a saia comprada no comércio popular carioca, no saara. fico paralisada com a avalanche de sensações que de repente cercam minha cabeça, tudo assim, em nove segundos e meio. foi necessário apenas esse tempo fictício para que tudo voltasse à tona: os beijos, as juras, as entregas, o calor, a sede, o quarto sempre trancado, o gelo, a pasta dental de morango, a calcanhotto no repeat, a quentura de janeiro, os dias que não sabíamos onde iniciavam e se estes terminavam, enfim. ela voltou aqui. eu, que acredito que as pessoas vêm me visitar em espíritos e vontades, sei que ela passeou por aqui e me senti invadida. que sacana! aproveitou de minha ausência e veio bisbilhotar minhas coisas! observei outro tanto de tempo antes que apanhasse o acessório que enfeitava a tal saia. lógico que, pervertida que sou, me lembrei que tal objeto deveria ter sido retirado com nossas fúrias voluptuosas e senti saudade. do sexo, dos medos, das descobertas, do cabelo azul, das risadas, das mãos dela, e das historinhas pra dormir. segurei delicadamente o treco como daquela primeira vez que encostei os meus lábios nos dela. foi tão cerimonial que pareceu uma dança. e foi. o enigma é que a música parou de tocar há exatos cinco meses.
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2 comentários:

Noga Sklar disse...

tá certo, annak, também sou sua fã, deve ser coisa de bode teimoso. te linkei no blog.

Simone Couto disse...

annak, fãs somos todas!

Texto lindo, visual, melancólico. Adoro tudo que vem de vc!

Bjs, Sim.