terça-feira, 18 de setembro de 2007

adeusbia

Ademar já tinha pensado nas múltiplas possibilidades para o fim, mas num certo dia — depois do culto de todos os domingos, diante da sopa de sempre à noite - resolveu. ¶
Aquela menina já estava passando dos limites. Não que não fosse bonita. Era. Não que não gostasse dela. Gostava. Aprendera a gostar de sua falta de modos, sua boca constantemente vermelha, seu risinho cínico depois das frases mentirosas, sua tatuagem verde de rifle no cofrinho, sua mania de esvoaçar qualquer seriedade. ¶
Um tiro no peito foi uma idéia que apareceu no princípio, mas logo abandonada porque sua mãe, Inês, já beirava os 78, e não merecia tanta desconsideração. Ademais, não lhe agradava ser alvo de comentários maldosos na Igreja Multitransnacional de Todos os Dias, como um fracassado do auto-flagelo de amor. Nada a ver com culpa ou medo de ir parar no limbo. Era vergonha mesmo.¶
Fez as contas e sabia que o pé de meia poderia lhe servir por alguns meses. Afinal tinha valido a pena sacrificar partidas de sinuca das terças-feiras, um conhaquinho que usou comprar até os 28 anos na mercearia do Seu Juca e as duas últimas férias embolsadas da firma. A intenção primeira era passá-las em Passo Vazio, uma cidadezinha charmosa do norte do Estado, em que havia uma pescaria tradicional no mês de julho. Os peixes quase vinham comer na mão. Mas custava caro, mais a vara nova, mais a passagem, mais o tropeirão no final do dia, mais umas e outras com os colegas. Agora sabia, obrigado senhor, eu consegui sublimar as duas últimas férias. ¶
Catou as duas malas velhas no armário, calçou uma bota velha amiga, amaciada aos calos de Ademar. Fez a barba, botou um cinto novo, presente de dona Inês no último Natal, até um gelzinho ele arriscou naquela data. Saiu assobiando como malandro, arrastando o pé, tentando elegância no último movimento. Zé Ramalho no toco, tomou o trago derradeiro. ¶
No outro dia, pela manhã, quem pegou o ônibus na avenida Lopes Silva, na região de Ribeiro Pro Mar, pôde acompanhar centenas de cartazes pretos com letras brancas, pregados nos pontos da linha 4201: AdeusBia. Estou indo embora.

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi, achei seu blog pelo google está bem interessante gostei desse post. Gostaria de falar sobre o CresceNet. O CresceNet é um provedor de internet discada que remunera seus usuários pelo tempo conectado. Exatamente isso que você leu, estão pagando para você conectar. O provedor paga 20 centavos por hora de conexão discada com ligação local para mais de 2100 cidades do Brasil. O CresceNet tem um acelerador de conexão, que deixa sua conexão até 10 vezes mais rápida. Quem utiliza banda larga pode lucrar também, basta se cadastrar no CresceNet e quando for dormir conectar por discada, é possível pagar a ADSL só com o dinheiro da discada. Nos horários de minuto único o gasto com telefone é mínimo e a remuneração do CresceNet generosa. Se você quiser linkar o Cresce.Net(www.provedorcrescenet.com) no seu blog eu ficaria agradecido, até mais e sucesso. (If he will be possible add the CresceNet(www.provedorcrescenet.com) in your blogroll I thankful, bye friend).

Puerto de Agua Fría disse...

HOla, como estas? espero que hoy sea un día muy lindo para ti y tu cercanos.

Con Afecto
Cristian

PotatoYes! disse...

olá.. vc que colou os cartazes.. "ADEUSBIA estou indo embora..." ?
gostei muito!

bia disse...

Morria de curiosidade de saber o que significavam aqueles cartazes.. A curiosidade foi tanta ao ponto de pesquisar na net...
Foi você quem colou os cartazes? Todos? Saão tantos... Qual era a sua intenção? Matar as pessoas de curiosidade e aguçar a imaginação delas????

Unknown disse...

Eu sou a Bia dos cartazes... Um amigo postou, qnd estava de partida pra MS...