De Simone Silveira Kaplan
Santa Teresa por Ele
Homem não chora. Quem chora é ela, Santa Teresa. Só ela. Eu vi. Eu, perdido entre foliões. O bloco das Carmelitas passando. A Ladeira derramou um rio de lágrimas minutos antes de Anita chegar. Tanta chuva, tanta dor.
Eu me arrumei todo. Olha que não sou de vaidade. Pensei em colocar a minha melhor roupa e acabei mudando de idéia. Queria encontrá-la com a cara limpa. Não usei brilhantina no cabelo nem minha camisa branca de linho. Aparei de leve a barba. Me enchi de esperança.
O que fiz foi esvaziar a mente. Desmarquei a birita e o jogo de cartas com a turma do Bar do Zé, despachei a empregada e dei-lhe uma gorjeta generosa. Desci e fui até a esquina. Comprei um maço de cigarros. De volta à casa, dispus o pacote e o coloquei na mesa ao lado da cama. Antes de tomar um banho, telefonei para o taxi e pedi que me pegasse às 19:00 horas. “Não posso me atrasar, informe ao motorista,” eu disse à telefonista da agência de taxi.
“Anita não é flor que se cheire”, pensei ao passar pelo o Aterro do Flamengo e ao avistar escassas pétalas de um rosa pálido nos galhos das árvores. Seguimos. As ruas estreitas e as curvas do morro surgiam aos poucos. Aquilo tudo era uma visão familiar. O taxi parou. Fui generoso novamente na segunda gorjeta do dia.
Pisei em Santa Teresa e as primeiras gotas de chuva, quase invisíveis, molharam a linha do bonde, os paralelepípedos disformes, as buganvílias agarradas no muro. Parece que foi ontem quando fugimos da multidão e das serpentinas, para trocarmos beijos extasiados e juras de amor.
19:20, ainda tenho dez minutos. Que fazer com estes dez minutos? Acendi um cigarro. Deixei o tempo passar.
Minha alegria desfaleceu-se aos poucos. O porvir foi assim, eu conto: dose de cachaça descendo quente pela garganta, o pandeiro tocando desafinado, "você manhã de tudo meu, você que cedo entardeceu, Você de quem a vida eu sou, E sem mais eu serei... Você um beijo bom de sal, você de cada tarde vã, Virá sorrindo, de manhã..."
No “Boteco do Mineiro” o músico passou o chapéu. Desta vez fui miserável. Paguei só a conta e economizei na gorjeta. Caminhei rua abaixo por entre os trilhos e confetes. Matutei com os meus botões, “ô mulher ingrata. Vá pro diabo que te carregue.”
Santa Teresa por Ela
Eu chorei . Derramei um rio de lágrimas. Ele não viu. Também não compreenderia.
Eu me aprontei toda e acabei mudando de idéia. Queria encontrá-lo como realmente sou. Não prendi meus cabelos, não usei batom vermelho. Não vesti aquela fantasia de cigana que ele gostava tanto. Só me preenchi de coragem.
O que fiz foi esvaziar a mente. Desmarquei a manicure das 11:00 horas e liberei a empregada. Fui até a esquina. Comprei um ramalhete de dálias alaranjadas. De volta à casa, dispus uma por uma no vaso e o coloquei na mesa ao lado da cama. Antes de tomar um banho, telefonei para o taxi e pedi que me pegasse às 19:00 horas. “Não posso me atrasar, por favor informe ao motorista,” eu disse à telefonista da agência.
“Osmar é traiçoeiro”, pensei ao passar pelo o Aterro do Flamengo e ao avistar árvores crescendo em solo frágil. Seguimos. As ruas estreitas e as curvas do morro surgiam aos poucos. Aquilo tudo era uma visão familiar. O taxi parou. Paguei o que devia. Desci.
Pisei em Santa Teresa e as primeiras gotas de chuva, quase invisíveis, molharam a linha do bonde, os paralelepípedos disformes, as buganvílias agarradas no muro.
19:10. ainda tenho vinte minutos. Quis acender um cigarro mas não tinha fósforo. Levantei-me e fui embora.
Meu choro ninguém viu. O porvir foi assim, eu conto: Sentei-me no meio-fio, tirei um livro de Freud de dentro da bolsa. Senti-me estúpida lendo Freud em plena terça-feira de carnaval. O abri em uma página qualquer. Li: Quando amam não desejam; e quando desejam, não podem amar. (Cap. IV, II,2).
“Meses sem notícias e agora quer me encontrar? Esquece!”, pensei. Desci a ladeira caminhando com passos tortos por entre os trilhos e confetes. “Todo caso de amor fulminante, mais cedo ou mais tarde passa. Dói mais passa”, suspirei aliviada.
Cinzas, só as da quarta-feira.
Santa Teresa por Ele
Homem não chora. Quem chora é ela, Santa Teresa. Só ela. Eu vi. Eu, perdido entre foliões. O bloco das Carmelitas passando. A Ladeira derramou um rio de lágrimas minutos antes de Anita chegar. Tanta chuva, tanta dor.
Eu me arrumei todo. Olha que não sou de vaidade. Pensei em colocar a minha melhor roupa e acabei mudando de idéia. Queria encontrá-la com a cara limpa. Não usei brilhantina no cabelo nem minha camisa branca de linho. Aparei de leve a barba. Me enchi de esperança.
O que fiz foi esvaziar a mente. Desmarquei a birita e o jogo de cartas com a turma do Bar do Zé, despachei a empregada e dei-lhe uma gorjeta generosa. Desci e fui até a esquina. Comprei um maço de cigarros. De volta à casa, dispus o pacote e o coloquei na mesa ao lado da cama. Antes de tomar um banho, telefonei para o taxi e pedi que me pegasse às 19:00 horas. “Não posso me atrasar, informe ao motorista,” eu disse à telefonista da agência de taxi.
“Anita não é flor que se cheire”, pensei ao passar pelo o Aterro do Flamengo e ao avistar escassas pétalas de um rosa pálido nos galhos das árvores. Seguimos. As ruas estreitas e as curvas do morro surgiam aos poucos. Aquilo tudo era uma visão familiar. O taxi parou. Fui generoso novamente na segunda gorjeta do dia.
Pisei em Santa Teresa e as primeiras gotas de chuva, quase invisíveis, molharam a linha do bonde, os paralelepípedos disformes, as buganvílias agarradas no muro. Parece que foi ontem quando fugimos da multidão e das serpentinas, para trocarmos beijos extasiados e juras de amor.
19:20, ainda tenho dez minutos. Que fazer com estes dez minutos? Acendi um cigarro. Deixei o tempo passar.
Minha alegria desfaleceu-se aos poucos. O porvir foi assim, eu conto: dose de cachaça descendo quente pela garganta, o pandeiro tocando desafinado, "você manhã de tudo meu, você que cedo entardeceu, Você de quem a vida eu sou, E sem mais eu serei... Você um beijo bom de sal, você de cada tarde vã, Virá sorrindo, de manhã..."
No “Boteco do Mineiro” o músico passou o chapéu. Desta vez fui miserável. Paguei só a conta e economizei na gorjeta. Caminhei rua abaixo por entre os trilhos e confetes. Matutei com os meus botões, “ô mulher ingrata. Vá pro diabo que te carregue.”
Santa Teresa por Ela
Eu chorei . Derramei um rio de lágrimas. Ele não viu. Também não compreenderia.
Eu me aprontei toda e acabei mudando de idéia. Queria encontrá-lo como realmente sou. Não prendi meus cabelos, não usei batom vermelho. Não vesti aquela fantasia de cigana que ele gostava tanto. Só me preenchi de coragem.
O que fiz foi esvaziar a mente. Desmarquei a manicure das 11:00 horas e liberei a empregada. Fui até a esquina. Comprei um ramalhete de dálias alaranjadas. De volta à casa, dispus uma por uma no vaso e o coloquei na mesa ao lado da cama. Antes de tomar um banho, telefonei para o taxi e pedi que me pegasse às 19:00 horas. “Não posso me atrasar, por favor informe ao motorista,” eu disse à telefonista da agência.
“Osmar é traiçoeiro”, pensei ao passar pelo o Aterro do Flamengo e ao avistar árvores crescendo em solo frágil. Seguimos. As ruas estreitas e as curvas do morro surgiam aos poucos. Aquilo tudo era uma visão familiar. O taxi parou. Paguei o que devia. Desci.
Pisei em Santa Teresa e as primeiras gotas de chuva, quase invisíveis, molharam a linha do bonde, os paralelepípedos disformes, as buganvílias agarradas no muro.
19:10. ainda tenho vinte minutos. Quis acender um cigarro mas não tinha fósforo. Levantei-me e fui embora.
Meu choro ninguém viu. O porvir foi assim, eu conto: Sentei-me no meio-fio, tirei um livro de Freud de dentro da bolsa. Senti-me estúpida lendo Freud em plena terça-feira de carnaval. O abri em uma página qualquer. Li: Quando amam não desejam; e quando desejam, não podem amar. (Cap. IV, II,2).
“Meses sem notícias e agora quer me encontrar? Esquece!”, pensei. Desci a ladeira caminhando com passos tortos por entre os trilhos e confetes. “Todo caso de amor fulminante, mais cedo ou mais tarde passa. Dói mais passa”, suspirei aliviada.
Cinzas, só as da quarta-feira.
2 comentários:
adorei
beijo,
Merci, milady!
Simone
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