sexta-feira, 18 de abril de 2008

Exercício desconfortável

Mudar: Trocar de aspecto, natureza; trocar uma coisa por outra; variar; remover de um lugar; deslocar-se de uma casa para outra; transformar-se. Esses são alguns dos significados de uma palavrinha que assombra a cabeça de muita gente. Mudar ou mudança. Para uns é novidade; para outros é dor. Há pessoas que vêem nessa palavra um novo sentido para a vida, novos rumos, novos ares. Outras sentem ameaça, têm medo, não querem sair da zona de conforto.

Mudar é o próprio sentido da vida. Mudamos a cada segundo, desde que nascemos. Trocamos de células, de tecidos, desenvolvemos nossas capacidades motoras, engatinhamos, andamos. Aprendemos a falar. De gugu-dadá avançamos para papai, mamãe, angu e daí para a frente não paramos mais de absorver as mudanças que a vida nos apresenta dia após dia.

Das transformações naturais, passamos a ser, digamos, empurrados às mudanças propostas e impostas, nas mais diversas situações, sejam elas familiares, profissionais ou de qualquer tipo de relacionamento. Um casamento, um filho, outro filho, o casamento que acaba, viver sozinho, outro casamento. Um emprego novo, ser demitido, um cargo novo, mudanças na estrutura organizacional da empresa, uma nova equipe, um novo chefe, um novo subordinado. Entrar para a faculdade, formar-se, fazer uma pós-graduação, mestrado, doutorado. Tudo na vida propõe mudança, quando tomamos qualquer decisão ou quando a vida decide por nós. E podemos optar por mergulhar nesta aventura ou ficar parado, cristalizado de medo, esperando ser engolido pelo destino. Piração?

Parece que sim, mas a própria psicologia nos explica que toda mudança pode significar algo como uma morte. Porque é uma fase, um tempo que definitivamente não volta mais. O fim de uma vida, para começo de outra. Acabou, perdeu, e perda é morte, e quem não tem medo da morte? É daí que surgem sentimentos próximos ao pânico que chegam a levar muita gente aos consultórios psiquiátricos para longos tratamentos químicos, que vão ajudar o cérebro a concatenar as idéias, de acordo com as novas perspectivas.

É só olhar para dentro ou para o lado e nos deparamos com essa realidade crua, ou cruel. A vida nos coloca diante de situações de mudanças das mais variadas formas e isso é sempre positivo, claro. Mas, muitas vezes somos forçados a mudar a partir da perda de um ente, de um casamento desfeito, o que costuma ser muito doloroso. A vida nos aperta, nos coloca contra a parede, como se dissesse: “É sua chance de se tornar uma pessoa melhor”. E agora, aceito ou não? Em todo caso é uma grande oportunidade de abraçar o novo, seja qual for o jeito que se apresente, e sorver até a última gota.

Por outro lado, volto à questão lá de cima, o medo de sair da zona de conforto, da comodidade, da fantasia criada para escamotear inseguranças, incapacidades e incompetências. “Enquanto estou aqui, debaixo do tapete, ninguém vê a verdadeira sujeira que eu sou”. Quem não conhece alguém assim? Cá pra nós, aqui no pé do ouvido, se já temos problemas demais a enfrentar com nossas próprias mudanças, o que acha de alguém assim ao seu lado? Ninguém merece!

O 'transformar-se' não é nada fácil pra ninguém, ao contrário. A reforma íntima, a constante mudança interior que nos abala pra frente é um processo natural, mas nos mobiliza a pensar, a exercitar o raciocínio, a inteligência. Nos coloca frente a frente com a ética, a moral, a decência e o respeito próprios e com os outros.

Transformar-se significa fazer um esforço além do impossível para não ficar para trás, parado, escondido na acomodação, enquanto a vida corre e as outras pessoas lá fora evoluem. É um movimento difícil, requer desprendimento e não é qualquer um hoje em dia que está a fim de se desprender seja lá do que for. Mas, acredito que vale a pena, senão, não estaria aqui, escrevendo, crendo, fazendo planos, esperando por um futuro que não existiria sem mudanças.
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Um comentário:

Noga Sklar disse...

Giovana, muito a propósito este seu artigo. Estou em fase de mudanças profundas, tendendo a me desapegar do pouco que restou dos desapegos anteriores. É duro. Mas é saudável. Eu recomendo.