Minha tia octogenária, tadinha, avessa a médicos desde criancinha, amanheceu no outro dia doentinha: não deu mais pra escapar deles. Convocado, o doutor respondeu ao chamado com um coquetel formado de sete pilula(s?)zinhas de cores sortidas, entre elas o famoso e inevitável antidepressivo.
Por um lado aplaudi: titia anda mesmo muito deprimida. Mas, por outro, me preocupei. O tal do remédio tinha feito parte do repertório inicial de drogas que fez bom coro à ruina humana em que mamãe se transformou, tadinha, e acabei desistindo dele: um bom e eficiente provocador de pesadelos.
Tudo isso teria acabado por aí, fala sério, relegado a assunto irrelevante por esta que vos fala e que prefere se atirar do edifício a botar pra dentro do cérebro um antidepressivo. Mesmo assim sei sim, sei mais ou menos do que estou falando, desde que fui nomeada curadora única e absoluta das receitas controladas da família. Outro dia, na drogaria, a vendedora se espantou com o volume delas que apresentei, é, minha filha, é duro controlar a doença (mental) alheia, é sim.
Mas tudo isso teria acabado por aí, fala sério, se não tivesse seguido por um papo onskype com uma jovem brasileira de nossa boa família, bem criada, bem casada e bem nutrida e mãe de bons filhos, que confessou frente ao contra-entusiasmo da tia que ela mesma consumia o tal remédio há mais de três anos. Espanto. Perplexa. Já tinha ouvido isso antes, me entendam, de ex-marido cavalarmente insensível, como é que você, uma moça normal, de boa família, bem criada e bem nutrida e mãe de filho nenhum tem tantos problemas? Vive tão deprimida? Pois é: me revoltei. Me revoltei e me enfiei por anos na terapia, mas mesmo correndo o risco de parecer antiquada, não boto nem morta pra dentro do cérebro um antidepressivo. Prefiro me atirar do edifício, e de um jeito ou de outro, não acredito mesmo no paraíso.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
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Um comentário:
Essa blaselândia mundo da tarjinha preta também não me pega,
Abraço Noga
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