Não sei não. Faz tempo que tenho sentido o maior medo de prazos e falsas esperanças do tipo "agora vai". Já vi muita gente boa sucumbir por causa disso. Mas lendo a revista do Globo neste domingo, fica difícil evitar um vigoroso "agora vai" rugindo de dentro do velho peito, gerado na mágica década de 1950 e já paralá de caído. Quando o mundo já esperava que a gente de vez desistisse, ou se aposentasse, desse vez a quem de direito, não sei não: olha nóis ai ôtra veiz. Ficou difícil.
Me lembro de um comentário esnobe de S.Z., meu então assessor de imprensa, impressionado com minha decisão pospólen de trabalhar em casa, atitude vanguardeira que na época significava: desempregada. fodida. desamparada. Pois na Revista de hoje reportagem nobre retrata projetos de escritório doméstico para quem... decide trabalhar em casa, ô mulher posmoderna, sô. Inda que tardia.
Inda que tardio também o renascimento de gente que fez história enquanto eu tentava fazer uma história, muitas vezes, dando uma mão a eles, ou pegando carona pela mão deles, como na expo de jóias na late Mr. Maravilhoso do paugrandense Luis de Freitas, nos idos de 1987, lá se vão vintinho. Ou fazendo do Cochrane's Crocker meu então escritório noturno, ah, tá bom: todo mundo que freqüentava aquele bar vinha com essa entre um uísque e outro, e curioso ou não, coincidência ou não, andei escrevendo sobre o Crocker's Cochrane's ontem mesmo, a lembrança avivada pela visita do Dr. João* — a.k.a. barman Johnny — aqui em casa, quando falamos do "falecido De Gang", é sério: houve quem pensasse (não eu) que ele houvesse morrido.
Enfim. Lá vou eu de novo tentando a minha casquinha na lasquinha tardia de notoriedade que espicaça meus companheiros da então estrada, ou, pelo menos, meus contemporâneos na falta almejada de fama. Vai chegando a nossa vez tardia no bloco pós-carnavalesco "A Fila Anda". AFE.
Vocês eu não sei, mas tenho me sentido cheia de energia. Isso porque, provavelmente, depois de anos funcionando com dois cérebros disfuncionais — o de mamãe senil e o meu — finalmente substituí um deles por um mais produtivo, canalizando mensagens literais de James Joyce, eita centro de mesa bom esse!, quer dizer, centro espírita de mesa, daqueles que Joyce tão jocosamente descreve no Ulisses, ao transmitir mensagens de mortos sobre sapatos perdidos: pra levantar moral de escritor fracassado não tem encosto melhor, fala sério. Mesmo que o texto psicografado fique a anos-luz do original canalizado, dá assim, digamos, uma pontinha de esperança. Um gosto amargo e doce de ilusão porética à la Stephen Dedalus: "E minha vez? Quando?"
Pois é, gente. Junto com essa meia dúzia de três ou quatro que anda tentando se levantar dos mortos consta essa que vos fala, antiga designer, antiga metida, antiga vanguardinha do Brasil hoje metida a escritora, é, gente: antes fosse namoradinha, mas como se diz... nunca é tarde para...
Nem que seja na hora da morte, é, tradução literal da oração latina aí de cima, puro equívoco católico apostólico que eu pensei que dizia: antes tarde do que nunca, ah, bom: nunc em latim quer dizer "agora": antes agora do que nunca, não é mesmo? Ops: na hora da morte amém.
* atual doutorando em cinema pela Sorbonne, que fique bem claro: tem gente que consegue meesmo dar a volta por cima
domingo, 10 de fevereiro de 2008
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