Hanna considera-se uma andarilha. Mesmo assim não foi fácil dizer adeus àquela Ilha—o casarão, o jardim, suas plantas, mais de duzentas fincadas no solo nos últimos dez anos. Para trás ela deixava a esperança de que as alfazemas sobreviveriam sem o seu cuidado. Duas maçãs tímidas ainda amadureciam no pé. A horta e o coração de Hanna minguavam aos poucos.
Hanna é orgânica. Suas mãos haviam cavado buracos admiráveis, misturado à areia seca e amarelada, um bom monte de esterco feito de algas marinhas. Lá estão elas, já se enraizando em terra boa, as árvores de folhas picotadas avermelhadas. Lindas. Elas crescem robustas apesar de tanto vento e sal nos galhos e tronco.
Durante a viagem os olhos de Hanna só viam a mata. O outono chegando, as folhas secando e amarelando. Da janela do carro, ela descrevia as flores e arbustos, a geografia, a relação destes objetos entre si e o espaço. Os seus olhos não registravam a arquitetura tradicional entre uma cidadezinha ou outra no meio do caminho. Ela lamentava, bem dentro de si, por conseguir levantar a cabeça, e enxergar algo diferente, como lhe dizia o marido.
A chegada de Hanna foi um desalento. Era um chegar definitivo, sem voltas. Como se habituaria? Ela colocou as malas no chão do corredor da nova residência e desabou de cansaço. Pela noite, deitada, sentiu o cheiro do travesseiro, experimentou a sensação familiar do peso do cobertor sobre o corpo. Pousou a Ilíada na cabeceira. Lembrou-se de Priam, rei de Tróia, suplicando o corpo do filho morto, Hector, a Aquilles.
No dia seguinte, Hanna pegou o metrô lotado. O centro da cidade—gente, carrinho, barulhos, lixo, sufocou-a. Era impossível andar por aquelas ruas estreitas e confusas. Porém caminhou, infinitamente. Seus pés calejavam. No campo, eles jamais reclamaram.
Hanna é orgânica. Suas mãos haviam cavado buracos admiráveis, misturado à areia seca e amarelada, um bom monte de esterco feito de algas marinhas. Lá estão elas, já se enraizando em terra boa, as árvores de folhas picotadas avermelhadas. Lindas. Elas crescem robustas apesar de tanto vento e sal nos galhos e tronco.
Durante a viagem os olhos de Hanna só viam a mata. O outono chegando, as folhas secando e amarelando. Da janela do carro, ela descrevia as flores e arbustos, a geografia, a relação destes objetos entre si e o espaço. Os seus olhos não registravam a arquitetura tradicional entre uma cidadezinha ou outra no meio do caminho. Ela lamentava, bem dentro de si, por conseguir levantar a cabeça, e enxergar algo diferente, como lhe dizia o marido.
A chegada de Hanna foi um desalento. Era um chegar definitivo, sem voltas. Como se habituaria? Ela colocou as malas no chão do corredor da nova residência e desabou de cansaço. Pela noite, deitada, sentiu o cheiro do travesseiro, experimentou a sensação familiar do peso do cobertor sobre o corpo. Pousou a Ilíada na cabeceira. Lembrou-se de Priam, rei de Tróia, suplicando o corpo do filho morto, Hector, a Aquilles.
No dia seguinte, Hanna pegou o metrô lotado. O centro da cidade—gente, carrinho, barulhos, lixo, sufocou-a. Era impossível andar por aquelas ruas estreitas e confusas. Porém caminhou, infinitamente. Seus pés calejavam. No campo, eles jamais reclamaram.
Um comentário:
Amiga (posso?) Simone,
Tenho sempre sensações maravilhoas quando leio seus textos.
Não saberia dizer o quê. Afinal, nem tudo se explica; apenas sente-se.
Grande beijo!
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