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meu amigo, eu te falo é do amor. não desses jurados nas noites de sexta-feira, sob o arco e o álcool da lapa, não. eu te falo do amor da segunda-feira, ainda nas proximidades do antigo aqueduto, entre coca colas e descobertas. eu te confesso meus medos da inexistência do caos. é o caos em nós, latente. dói, amigo, dói, mas passa. isso é o mais costumeiro dos clássicos que a gente ouve, mas é verdade absoluta destilada e engarrafada pra ser consumida aos poucos, homeopaticamente. não é o fim, juro. é o que chamo de dobrar a esquina. o que acontece é que não queríamos. e de repente somos obrigados a sair do canto, levantar as pernas e caminhar por uma calçada que não sabemos onde vai dar. mas do que isso, a crueldade das coisas, somos obrigados a percorrer essa estrada sozinhos, sem ele, sem ela. a gente fica de repente cercado pelo umbigo. restamos nós, os nós. e a gente se dá conta que não sabe nada acerca do mundo, e tanto que a gente estudou! nietzsche, platão, buda, heidegger, lispector, saramago, freud. ninguém nos livra, nenhum deles desce do altar e nos convida pro bom vinho barato nos bares da vida contornados pelo arco. talvez a culpa seja do bonde, das escadarias coloridas, da vastidão de gemidos ecoados pelos becos sujos, da fumaça de maconha que deixa difuso o ar. os culpados somos todos nós, que engolimos direitinho a conversa boba de que eu sei que vou te amar por toda minha vida eu sei que vou te amar. sempre insistindo nas eternidades. tsc tsc tsc. vinte e quatro horas de cada vez e tudo ao mesmo tempo agora. o mundo é grande demais e gente não dá conta mesmo. talvez a solução seja aceitar, fingir que é melhor assim, fazer o jogo do contente, do feliz, do otimista. eu não sei a solução, nem sei se sobrevivi, se saí ilesa dos idos sete anos e meio, eu não sei. mas se conselho fosse bom, se servisse, se adiantasse, se fosse exemplo, eu te diria:
…………………….olha, chora toda a tua dor. chora mesmo, em prantos, no colo da mãe, do pai, dos amigos, dos irmãos, dela mesma. chora no espelho, no trem, nas ruas cheias de sol, atravessando passarelas, zona norte, zona oeste. chora o tempo necessário que não deve ultrapassar tua existência. é o luto. aceita essa dança nova. aceita que alguém sacou que pode viver sem ti, e aí um dia tu descobre que, apesar de menos colorido, tu pode viver sem ela. há coisas que não podemos modificar, tu sabe. e, embora eu odeie ser contrariada, aprendi isso e fico muito agradecida por tudo. nada é definitivo, graças à deus.
viva teus dias, depois da chuva imensa, como se nessa nova rua, as flores te saudassem.. e saúdam! o fato é que nunca tu havia prestado atenção nisso antes. depois que parar de chover, abre as janelas e portas. pode ser aos poucos, pode ser com fúria. abre os braços, os espaços todos. deixa o novo, a nova, te apossar inteiro. uma dica importante: isso aí doendo, isso que tu chama amor, não passa, o poeta estava certo. só que é preciso saber que o amor liberta. e é por isso.
tu me sabes:
é amor.
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Um comentário:
muito bom, pra variar (rsrs)
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