Por Giovana Damaceno
Domingo, quase cinco da tarde. Volto de um almoço na cidade vizinha. Acabo de comer uma feijoada e saio devagar, curtindo a tarde de sol e vento fresco. Passo em frente a um motel de periferia e vejo um casal debruçado na janela, totalmente aberta. Ele, sem camisa: ela, de sutiã. Comentei na hora o que vi, ainda em tempo de observar melhor a cena, já que estávamos sem pressa. Ele, moreno; ela bem clara; ambos bonitos, magros, sorridentes. Da janela do motel vê-se o pôr-do-sol em toda a sua beleza e o casal lá, silencioso, apenas observando.
Quem costuma se deliciar com as nuances do dia, como eu, é capaz de entender. Uma tarde fina, de luz mansa de inverno, uma brisa que parece triste. O pôr-do-sol é laranja, já baixo, o céu é límpido. E o dia vai morrendo assim.
Fiquei pensando naqueles dois, numa tarde de domingo, após uma hora de sexo (mais? ou menos?), curtindo o inverno morno pela janela do motel. Não conheço alguém que faça isso. “No mínimo é uma alternativa ao Faustão”, disse meu namorado, “nós fomos comer uma feijoada e eles estão ali, românticos, descansando à janela depois de uma tarde de sexo selvagem”. Quem sabe?
Tive um amigo que detestava domingos. Saía nas noites de sexta e sábado, encontrava gente, bebia todas. Mas, no domingo, mal acordava e já encarava uma sessão de filme atrás da outra, para não ver o dia passar. Janelas e cortinas fechadas, sanduíche, água, café. Chegava a noite, via o Fantástico e cama. Foi assim durante quase toda a juventude até que conheceu uma garota. Que adorava domingos. As tardes de domingo. E ela o ajudou a descobrir algo de útil para fazer nesses momentos. Sexo.
Foram tardes e tardes dominicais, cada uma delas numa suíte de motel diferente. Ele, aprendendo a gostar de domingo; ela juntando algo que gostava com algo de que gostava ainda mais. Porém, em nenhum desses dias memoráveis a janela foi aberta, entravam debaixo de sol e saíam já noite.
Lembro dos relatos dele sobre essas horas. A tara pela garota, as conversas, a cerveja, o café depois do sono. E imagino em que pensava o casal na janela, onde morariam, e o que fariam da vida. Seriam namorados? Ou amantes? Estariam felizes? Ou se conheceram no almoço? Na noite anterior, talvez, e estavam ali encerrando o fim de semana.
Depois de tanta divagação vejo que já estou à porta de casa. Quase 5h30. E lembro do que meu namorado disse. “Uma alternativa ao Faustão”. Realmente nada melhor para um domingo que uma tarde de sexo, com direito a pôr-do-sol a dois. Sem TV.
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