segunda-feira, 24 de setembro de 2007

aniversario

Com a calma, vejo a mão da minha mãe na minha. Minha timidez facial - que um namoradinho batizou com propriedade - tem um quê da boca da minha avó. Que era idêntica a mim quando era bem jovem. O que eu quero dizer é que só agora eu vejo, em mim, minha família. O franzido de boca da dona Lourdes está aqui, quando dá preguiça da conversa. As unhas da dona Cecília são mais cuidadas e sempre vermelhas mas eu vejo sua mão na minha mão. Minha boca anda mais fina. Meu pescoço continua longo - o que um namoradinho bonzinho chamou de moça de Modigliani. A voz eu reconheço quando converso com quem amo. Senão, tem um timbre de desespero. Os quadris, eu já tinha visto, ganharam um plus que eu reconheço nas amigas de faculdade. Teve um ombro que deu problema na volta da Bahia. O acupunturista diagnostica responsabilidade - para mais ou menos - e desejos inconfessáveis. Morro de rir. Quem não te conhece que te compre. Tudo faz um sentido inexplicável. É onde é bonito. Mesmo que seja a calma.

2 comentários:

Simone Couto disse...

Anna, belo texto. Tem um quê Clariciano nele que adoro. Vou encontrar uma crónica dela no "para não esquecer" e te enviar. Fala exatamente disto, da nossa procura no outro.

Viemos todos de um só início—matéria singular. E mesmo assim, precisamos continuar a nos procurar no outro. Com calma ou às pressas, a imagem se revela, se interpreta, se refaz, existe.

Um bj para ti, menina.
Sim.

Anna K disse...

a colcha de retalhos: cada um é um pedacinho do outro e o outro é um pedacinho da gente.

linda!
beijo